segunda-feira, 28 de maio de 2007

Pedra Filosofal


Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
Contraponto, sinfonia,
É uma constante da vida
Máscara grega, magia,
Tão concreta e definida
Que é retorta de alquimista,
Como outra coisa qualquer,
Mapa do mundo distante,
Como esta pedra cinzenta
Rosa-dos-ventos, Infante,
Em que me sento e descanso,
Caravela quinhentista,
Como este ribeiro manso
Que é Cabo da Boa Esperança,
Em serenos sobressaltos,
Ouro, canela, marfim,
Como estes pinheiros altos
Florete de espadachim,
Que em verde e oiro se agitam,
Bastidor, passo de dança,
como estas aves que gritam
Colombina e Arlequim,
em bebedeiras de azul.
Passarola voadora,


Pára-raios, locomotiva,
Eles não sabem que o sonho
Barco de proa festiva,
É vinho, é espuma, é fermento,
Alto-forno, geradora,
Bichinho álacre e sedento,
Cisão do átomo, radar,
De focinho pontiagudo,
Ultra-som, televisão,
Que fossa através de tudo
Desembarque em foguetão
Num perpétuo movimento.
Na superfície lunar.



Eles não sabem que o sonho
Eles não sabem, nem sonham
É tela, é cor, é pincel,
Que o sonho comanda a vida,
Base, fuste, capitel,
Que sempre que um homem sonha
Arco em ogiva, vitral,
O mundo pula e avança
Pináculo de catedral,
Como bola colorida


Entre as mãos de uma criança.



António Gedeão, Movimento Perpétuo, 1956

2 comentários:

Ácido Cloridrix HCL disse...

Uma de minhas canções portuguesas preferidas,,,,, obrigado pela lembrança,,,,

Jonas R. Sanches disse...

Lindo!