Pedra Filosofal
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Eles não sabem que o sonho |
| Contraponto, sinfonia, |
É uma constante da vida |
| Máscara grega, magia, |
Tão concreta e definida |
| Que é retorta de alquimista, |
Como outra coisa qualquer, |
| Mapa do mundo distante, |
Como esta pedra cinzenta |
| Rosa-dos-ventos, Infante, |
Em que me sento e descanso, |
| Caravela quinhentista, |
Como este ribeiro manso |
| Que é Cabo da Boa Esperança, |
Em serenos sobressaltos, |
| Ouro, canela, marfim, |
Como estes pinheiros altos |
| Florete de espadachim, |
Que em verde e oiro se agitam, |
| Bastidor, passo de dança, |
como estas aves que gritam |
| Colombina e Arlequim, |
em bebedeiras de azul. |
| Passarola voadora, |
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| Pára-raios, locomotiva, |
Eles não sabem que o sonho |
| Barco de proa festiva, |
É vinho, é espuma, é fermento, |
| Alto-forno, geradora, |
Bichinho álacre e sedento, |
| Cisão do átomo, radar, |
De focinho pontiagudo, |
| Ultra-som, televisão, |
Que fossa através de tudo |
| Desembarque em foguetão |
Num perpétuo movimento. |
| Na superfície lunar. |
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Eles não sabem que o sonho |
| Eles não sabem, nem sonham |
É tela, é cor, é pincel, |
| Que o sonho comanda a vida, |
Base, fuste, capitel, |
| Que sempre que um homem sonha |
Arco em ogiva, vitral, |
| O mundo pula e avança |
Pináculo de catedral, |
| Como bola colorida |
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| Entre as mãos de uma criança. |
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António Gedeão, Movimento Perpétuo, 1956 |
2 comentários:
Uma de minhas canções portuguesas preferidas,,,,, obrigado pela lembrança,,,,
Lindo!
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