domingo, 1 de fevereiro de 2009

Aurora


Aurora

Noite de plenilúnio! A soberba dos agapantos
Desmaia, delicada, entre sopros de inquietude.
Ao longe – tão perto dali, afinal – soçobram prantos
Como os que se ouvem às aves agoirentas, amiúde.

Hedionda a luz, a daquele luar a parir quebrantos,
A derramar espúrias gotas de pachorrenta virtude,
Soltando as mais claras sombras, silhuetas de Santos,
Alvas trevas, ais tão doces que não há quem os desnude.

– Horizonte! Que novas me dás? (...) Nada! Nem um só som!
Encolho-me no valhacouto que construí com a vida
E expludo em suavíssimas pétalas de dor contida!

Oloroso e brando, sussurra um zéfiro de bom-tom!
Agora, espreguiço-me e como se acordara vejo
O escuro a desfazer-se, e lá ao fundo, o alvor benfazejo.