Pedra Filosofal | ||
Eles não sabem que o sonho | Contraponto, sinfonia, | |
É uma constante da vida | Máscara grega, magia, | |
Tão concreta e definida | Que é retorta de alquimista, | |
Como outra coisa qualquer, | Mapa do mundo distante, | |
Como esta pedra cinzenta | Rosa-dos-ventos, Infante, | |
Em que me sento e descanso, | Caravela quinhentista, | |
Como este ribeiro manso | Que é Cabo da Boa Esperança, | |
Em serenos sobressaltos, | Ouro, canela, marfim, | |
Como estes pinheiros altos | Florete de espadachim, | |
Que em verde e oiro se agitam, | Bastidor, passo de dança, | |
como estas aves que gritam | Colombina e Arlequim, | |
em bebedeiras de azul. | Passarola voadora, | |
Pára-raios, locomotiva, | ||
Eles não sabem que o sonho | Barco de proa festiva, | |
É vinho, é espuma, é fermento, | Alto-forno, geradora, | |
Bichinho álacre e sedento, | Cisão do átomo, radar, | |
De focinho pontiagudo, | Ultra-som, televisão, | |
Que fossa através de tudo | Desembarque em foguetão | |
Num perpétuo movimento. | Na superfície lunar. | |
Eles não sabem que o sonho | Eles não sabem, nem sonham | |
É tela, é cor, é pincel, | Que o sonho comanda a vida, | |
Base, fuste, capitel, | Que sempre que um homem sonha | |
Arco em ogiva, vitral, | O mundo pula e avança | |
Pináculo de catedral, | Como bola colorida | |
Entre as mãos de uma criança. | ||
António Gedeão, Movimento Perpétuo, 1956 |
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Pedra Filosofal
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2 comentários:
Uma de minhas canções portuguesas preferidas,,,,, obrigado pela lembrança,,,,
Lindo!
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